sexta-feira, 27 de julho de 2012

Hoje eu chorei com o caminhão de gás


A primeira coisa que eu vi quando abri os olhos foi a minha cachorrinha me espiando triste do corredor, eram quatro da manhã e eu já sabia que não iria dormir mais.
Meu sono é interrompido de duas em duas horas por um pânico horrível que paralisa meus órgãos e só deixa viva a bile que toma todo o meu corpo e me faz querer vomitar até virar do avesso.
Eu arregalo os olhos para o teto, fecho minhas mãos com uma força que quase faz com que minhas unhas cortem minhas palmas e deixo a onda da dor vir, ela me sacode inteira, me joga numa profundidade sem som e me afoga por completo.
Abro as janelas porque preciso de ar, mas nunca tem ar para meu pulmão afogado. Coloco o santinho que meu avô me deu no peito e peço a ele: você já morreu por amor, não deixe acontecer o mesmo comigo.
Amar dói tanto que você volta a lembrar que existe algo maior, você se lembra de Deus, você se lembra de vida após a morte.
Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria.
Você apela pra todo e qualquer santo, pra cartomante, pra ex-namorado, pra tarólogo, astrólogo, psicólogo, numerólogo, amigo e apela até pra inimigo. Qualquer um, pelo amor de Deus, tire essa dor de mim.
Não adianta, não vou dormir mais. Mas vou fazer o que então? Minha cama me lembra você, minha cachorra me lembra você, beber água me lembra você, viver me lembra você.
Vou me levantar agora e ir para onde? Tomar banho? Tomar café? Não tenho nenhuma vontade de existência, seja de vaidade ou gula. Só quero ficar deitada, mas ficar deitada também dói. O mundo não tem posição confortável pra mim, aonde vou, essa merda de dor horrível vai junto.
Chorar não adianta, eu seco de tanto chorar e não passa. Ver TV, falar ao telefone, dançar, gritar, escrever, abraçar minha mãe, tomar suco de manga… nada adianta.
Eu sei, eu sei, o eterno clichê “isso passa”. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu não vou mais te amar.
É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim.
Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista.
Minha cachorra pede um biscoitinho, aí eu choro porque eu lembro que você adorava dar biscoitinho para ela. Está sol, e eu choro porque você ficava feliz com o sol e você feliz era tão perfeito que eu tinha medo. Aí eu vou escovar meus dentes e choro porque você tirava sarro da minha escova elétrica, depois eu faço xixi e choro porque a gente tinha liberado o xixi de portas abertas. Eu abro o guarda-roupas e choro porque eu não quero ficar bonita, eu não quero dar a volta por cima, eu não quero ficar bem pra você ver que eu estou bem e quem sabe ter saudades.
Choro porque acho ridículo os jogos da vida, qualquer coisa é ridícula perto desse amor que é tão simples e óbvio. Quando finalmente eu consigo me arrumar em meio a esse rio de lágrimas, eu choro porque o caminhão do gás passou e aquela musiquinha idiota, mais algumas crianças berrando na quadra lá embaixo e mais dois passarinhos cantando na minha janela, me lembram que a rotina, a alegria e a pureza ainda existem, apesar de você não estar mais aqui.
Nada, nada aconteceu para o mundo. E eu me sinto minúscula e sozinha por não ter a cumplicidade da vida lá fora, por não ter um minuto de silêncio pela nossa morte, por ter que sentir tudo isso sozinha, entre escovas de dentes, xixis e roupas dobradas e cheirosas.
Odeio a ordem de tudo, odeio a funcionalidade de tudo, odeio que a TV ligue, que o telefone toque, que meu estômago peça comida, que japonesas riam fora de hora, que meu carro corra, que a bola quique duas vezes antes e, principalmente, que você, não muito longe daqui, sorria.
Dirijo até meu trabalho sem nada dentro de mim a não ser um monstro parasita que se alimenta do meu desespero, nenhum farelo de comida. Meu lado da frente está quase colando ao de trás, talvez na falta de você eu precise mesmo me juntar mais a mim mesma. Minha mesa está lá, meu lixo está lá, minha cadeira, a menina grande que fala igual a um homem, a gordinha solícita que não pára de me olhar até que eu olhe para ela, sorria e diga bom dia. Está tudo lá, mas você, mais uma vez, não está aqui.
Vou para o banheiro e choro, que novidade? Mas dessa vez porque me olho no espelho, e isso também me lembra você. Eu era sua, a sua menina, a sua criança, a sua mulher, a sua escritora predileta, a sua parceira de dar risada de programas estúpidos que passam de madrugada na TV, a sua namorada sensível que tinha medo de vomitar e de amar demais, assim como você. A sua melhor amiga pra sentar num banco de praça e falar mal de todo mundo, pra perder um trem na Itália e ainda por cima sentar num chiclete fresco ou pra cuidar do nosso porquinho de pelúcia. Eu era a mulher que encaixava a cabeça nas suas costas e sabia que tinha nascido a partir de você,
eu era a mulher que esperava sofridamente você voltar mas nunca deixou de te amar mesmo quando você ia.
Todo mundo me fala que eu preciso ser minha, inclusive pra ser sua, mas eu não deixo de olhar para o espelho e ver uma metade de gente, uma metade de sonho, de sexo, de alegria e de futuro. Que se foda a auto-ajuda, que se fodam os livros com homens carecas, que se foda o terceiro olho (do cu?) e que se foda a psicologia: eu sou mesmo metade sem você e que se foda!
Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?

!.!.!



Você não precisa mais de chocolate. Agora, você tem um cidadão que te causa o mesmo efeito. Que te dá uma sensação boa pelo corpo inteiro. Que te dá energia e que te dá gosto. Que dá gosto de olhar, de tocar, de sentir, de beijar. Ele dirige bem seu carro, seu corpo e, se sua vida fosse um filme, ele poderia ser o diretor. Ou o personagem principal. Ele escreve as coisas mais lindas que você já leu e, mesmo assim, ele consegue ler seus textos cheios de clichês. E ele é meio clichê do seu lado. Ele fala que te adora. Te chama de linda. Diz que te quer pra sempre. Mas enquanto o pra sempre não chega, você quer aproveitar cada segundo do lado dele. Você queria não ter hora pra ir embora. Você queria que ele não fosse embora. Você só queria rir com ele à noite inteira. E queria que a noite inteira não tivesse fim. Pra vocês falarem besteiras. Pra jogar conversa fora. Pra você falar das coisas fúteis sem parecer estúpida. Pra ele rir porque o álcool é intolerante a você. A noite é sempre perfeita. Você bebe uma ou duas doses da sua bebida favorita e ri horrores. Ri porque se diverte com ele. Ri porque ele consegue ser mais bobo que você. Ri porque não entende como pode ser tão gostoso estar do lado daquele cara que nada sabe sobre você e gosta da sua companhia mesmo assim. Ri porque está feliz com tão pouco. Está feliz de estar ali. E queria estar ali pra sempre. Você ri porque ele não é nada daquilo que você imaginou pra sua vida. Mas ele te convence, sem palavras, de que é o cara perfeito pra você. E faz com que tudo que você viveu antes dele pareça tão morno. Faz com que os outros caras que já passaram pela sua vida pareçam tão pouco. Ele admira seu sorriso. Diz que seu corpo é lindo. Adora seu cabelo. Suas pernas. Beija sua mão. Beija seu rosto com um carinho ingênuo. Toca sua pele e faz você se sentir uma adolescente. Ele te abraça e muda o ritmo da sua respiração. Porque, na verdade, ele mudou sua vida. Ele não fez nada pra isso, mas te faz a pessoa mais feliz do mundo. Você não quer mais nada dessa vida. Quer ele. E só. Quer ele te abraçando com aquela mão macia. Com aquele corpo quente. Aqueles olhinhos brilhando do seu lado. Aquele olhar que fala sem palavras. Aquele sorriso mais do que fofo. Aquele cara que chegou e te rendeu sem o mínimo esforço. Por quem você abandonaria todos os outros caras interessantes que te ligam sábado à noite. Deletaria do seu celular todos os números de telefone. Por quem você largaria todas as outras propostas. Arriscaria começar tudo de novo. Ele é o cara pra quem você olha e pensa: fica na minha vida pra sempre?

Serralheria


Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde viria. Vem sempre depois do tô ótima, melhor que nunca. Vem sempre depois do tô aliviada, melhor assim. E então, quando abafa o grito alegre, abaixa o tudo de bom que sou, recolhe a corrida pelo nem é comigo, chega essa notícia insuportável me lembrando que ficamos pra trás. Deixar a dor vir é como receber o jornal de amanhã com notícias velhas. Essa vontade de ir até uma serralheria de bairro, com cortantes apodrecidos, e pedir: serra eu até eu ficar como ele quer? Serra eu? Tem como me fazer do tamanho que não afasta? Tem como me fazer na medida do que encaixa eternamente? Tem como me fazer sem isso dentro, essa coisa que é a única mas que eu, hoje, por causa dessa atração repentina pela anulação, ou sei lá o quê, não quero mais. Posso abrir mão disso que me mantém viva ou pelo menos me trouxe até aqui? Essa coisa mais forte que tudo e que me diz “se eu não obedecer, nem sobra força de amor pra amar, então que acabe”. Tem como tirar essa minha força motriz, ego desgraçado, sopro de mim mesma me empurrando, o que me fez não sucumbir, o que me nina ainda que seja uma babá malvada, o que me acolhe ainda que seja a bruxa mais terrível. Eu quero embarcar no trem fantasma, então me serra até meus medos e certezas virarem pó de construção. As minhas rebarbas que arranham, tem como refilar? Me faz uma bolinha pequena e lisinha, chuta a bolinha, queria ir parar debaixo da sua cama. Submissa eternamente a sua existência sem furos e passagens e bordas pra carregar. Tem como? Tem como eu me cortar inteira pra montar de um jeito que eu jamais me incomode com esse muito desenfreado que você sente pra de repente não sentir mais nada, nem dúvida? Tem como assoviar e andar feliz mesmo sabendo que você corre antes de esgotar, porque tem pouco aí dentro? Ué, mas não era muito mais que tudo? É infinito ou tão pouquinho que você usa tudo de uma vez pra parecer alguém especial? Tem como sobreviver vendo um espelho tão escancarado e que ao mesmo tempo me deforma? Tem como me fazer nascer de novo, de um jeito que eu só queira você e não o que eu sonho com você? Porque agora, de longe, parece tão fácil. Agora, de longe, se desse, pra te ter por minutos, nossa, eu seria tão feliz. Mas semana passada, gritava dentro de mim, se não fosse pra sempre, se não fossem mil minutos, se não fossem os meus minutos, que eu focasse então em tudo de ruim pra me livrar logo do pouco que ofende ou do egoísmo que bate de frente. Compartilho com você, e nem sei como amadureci tão rápido, da certeza da impossibilidade. Mas sinto sozinha o quanto isso me faz amar você ainda mais. Porque se desse, se eu pudesse, se desse mesmo pra te amar, seria amor e ponto final. Não seria essa coisa que a gente, mais uma e pela última vez compartilhando algo, achamos que é amor. Se existisse no mundo, com suas regras terríveis, uma brecha pra roubar no jogo, se existisse um único vão por onde se escapa do óbvio, se desse mesmo pra passar correndo atrás de Deus e pular no abismo do que queremos porque queremos. Eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você. Eu só não consigo, vejam como essa vida é mesmo uma coisa de deixar qualquer um louco, eu só não consigo escolher você da maneira mais fácil e particular, que é tendo você. Que é sendo você. Mas se eu virar, se eu virasse, esse pó de serra, se eu virasse argila, se eu pudesse ser esculpida por você, o que você faria de mim? Eu queria, eu queria triturar o que sou pra ficar quieta e olhar você. Eu queria calar ou matar essa coisa toda que sou e diz disso sem parar, pra só te ver ou ser pra você. Mas se você soubesse, como foi duro, resgatar tudo e colar ao meu modo, nesses mil anos, pra agora, assim, sem eu nem saber, me assoprar por você. Entende? Porque eu te juro, de todas as coisas do mundo, eu só queria olhar pra você. Ainda que andar cega me deixe daquele jeito e ainda que você jamais vá guiar alguém na escuridão. Seu medo de andar no escuro ou ser necessário. E então vem a merda toda. Eu preciso correr pra ficar em pé, e então corro, e corro, e de pé estou. E de pé, agora, olhando tudo. Também não era isso

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Trechos de Fernanda Mello 2


RECOMEÇOS
"Já que a semana está em branco e um novo dia sorri, vamos escrever a vida. Sem medo. Sem aquela expectativa surreal de ter-que-fazer-perfeito. Sem aquela cobrança de fazer tudo o que queremos (e não o que precisamos).
Que tal pararmos de pular a primeira página pra treinar a letra ideal? Vamos escrever do jeito que for, afinando e desafinando, errando e acertando e - sempre - amando e aceitando o melhor e o pior que existe em nós. Afinal, cada dia é um novo ano. E a gente merece ser feliz e recomeçar sempre.
(Quantas vezes for preciso)."




PROMESSA - FUTURO"Prometo não te ligar
Não escutar aquela música
Não olhar aquela foto
Que eu roubei de você.
Prometo nem mais te amar.
Segunda - feira eu começo."


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Silencio


De repente, um silêncio tão bem dito que não entendi mais nada. Ao contrário de outros, alguns silêncios apagam a luz.

Bendita seja a claridade das palavras também quando permitem que dúvidas sejam dissolvidas. Que equívocos não sejam alimentados. Que distâncias não cresçam. Que a confiança prevaleça
. Que o afeto não se torne encabulado.
Bendita seja a claridade das palavras também quando ficamos no escuro da incompreensão, tateando as paredes deste cômodo pouco ventilado à procura de um interruptor qualquer que acenda o nosso entendimento.

Bendita seja a claridade das palavras também quando aproximam, em vez de afastar. Quando nos possibilitam o conforto da verdade, mesmo que ela desconforte. Quando simplesmente queremos saber o que está acontecendo com as pessoas que amamos simplesmente porque amamos.

Bendita seja a claridade das palavras quando ditas com o coração. Ele sabe como acender a luz.

Palavras afins



Se um dia voltares, destranque as portas que bati na boca do seu estômago. Se não, saiba que por irônica coincidência, fomos perfeitos. Eu, estátua. Você, liberdade. Por ora, me manterei afastado. Por birra, preguiça ou medo simplesmente. Não sei se é uma preparação pra não ter você ou se tenho pavor de medir o tempo ou, quem sabe, um receio covarde de que a gente não saiba terminar e deixe passar nosso prazo de validade por emails cada mês mais curtos.
Muitas pessoas ficaram pra trás, outras tantas deixei passar. Não sei de que lado você está. Bem. A vida segue, não sei como, mas é confortável pensar assim. Talvez eu esteja desafiando alguma lei da física, mas já tenho saudade de um futuro que não viverei. São as estradas da vida. Só se pode seguir uma delas, sem nunca saber como seriam as outras. Acontece assim também com alguns amores.

Trechos de Chico Buarque

"As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem."


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Trechos Diversos 21

"Quem sabe muitas vezes não fala e quem fala muitas vezes não sabe."
Maurinho

'É por isso que você se complica tanto, sussurrou em meu ouvido. Você precisa parar de tentar entender. Coisa boa não se entende, se vive!"

Boa noite Cinderela

"Eu disse que tinha um motivo e não uma explicação. Me deixa. Você jamais estará disposto a ser assustadoramente feliz sem estar disposto a sofrer assustadoramente."



Sumo de idéias"Esqueci a tal exatidão. Dar nome aos bois, colocar os pingos nos "is", bater de frente. Tirei férias disso tudo. Se algum desaforo bater à minha porta, não atendo. Canto ciranda, enfeito minhas tranças, converso com a esperança. Perdi minha mala carregada de ressentimentos na estrada do sossego. Mudei a rota, arranquei as portas que aprisionavam meu sorriso. Me perdi do tempo. Me encontrei em mim."
Renata Fagundes

Trechos Diversos 20

“E se amar fosse opcional, o que você escolheria?”
“Quando eu tiver minha filha, vou ensinar a ela que príncipes encantados existem sim, mas não como nos livros, como nos contos de fadas. O verdadeiro príncipe encantado, na maioria das vezes não tem um cavalo, ou até um carro, mas isso não importa, ele vai até a sua casa a pé, só pra ver você. O príncipe encantado não precisa ter as melhores roupas, roupas de gala, pra ser um príncipe. Ele tem que tratar uma garota bem, com respeito, sem magoa-la. Vou ensinar a minha filha, que o príncipe deve ser gentil, e trata-lá com carinho. Que o verdadeiro príncipe é fiel, não trai, não machuca o coração da princesa. Direi a ela, porém, que encontrar um príncipe é muito difícil, não irei iludi-la. E se ela perguntar se já conheci um príncipe, terei a felicidade de dizer que sim, e que ela pode ter orgulho em chamar o meu príncipe, de pai.”


E nós nunca vamos nos beijar na chuva. Eu também nunca vou calar sua boca com um beijo e nenhuma das nossas brigas vão acabar na cama. Eu nunca vou te observar enquanto você dorme e nunca vou fazer cafuné em você quando você estiver com a cabeça deitada no meu peito. Não vamos passar tardes assistindo filmes românticos debaixo das cobertas e comendo brigadeiro. Também não vamos passar madrugadas acordados conversando. Nossos planos não vão se concretizar. Eu não vou ficar com vergonha conhecendo sua família.Não vamos contar aos nossos filhos a longa e estranha história sobre como nos conhecemos. As pessoas não vão olhar pra nós e falarem sobre como nós somos bonitinhos juntos. Não vamos discutir sobre quem vai levantar pra apagar a luz do quarto. Não vamos ter um futuro.Tudo isso poderia ter acontecido, mas não vai. Porque nós dois fomos feitos pra nos conhecermos, nos apaixonarmos, mas não pra ficarmos juntos.Vinícius Kretek

No coração também deveria existir ''Deletar contato'' - ''Bloquear usuário'' e ''Excluir histórico''.Tawane Soares

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gratidão


(...) Diariamente eu chego a simples conclusão de que a vida é tão maravilhosa porque também é feita de colos, de feridas que cicatrizam, de amigos que celebram ou choram junto, de café coado com coador de pano, de gente que pega ônibus ou faz caminhada pela manhã, de quem planta o que se pode comer, de vizinhos que alimentam seus gatos com comida de gente. Que a vida é feita de algumas pessoas que direcionam todo o seu potencial criativo para melhorar a qualidade de vida de gente que eles nem conhecem. Que é feita de e-mails que chegam recheados de saudade e de cartas extraviadas solitárias numa gaveta de um correio qualquer. De muros e pontes e cais. De aviões que suprimem distâncias e de barcos que chegam. De bicicletas que atravessam cidades. De redes que balançam gente. De rostos que recebem beijos. De bocas que beijam. De mãos que se dão. Que existem pessoas altamente gostáveis, altamente rabugentas, altamente generosas, pessoas distraídas que perdem as coisas, mal-educadas que buzinam sem necessidade, pessoas conectadas que se preocupam com o lixo, pessoas sedutoras e seduzíveis, possíveis e impossíveis, pessoas que se entregam, pessoas que se privam, pessoas que machucam, pessoas que chegam pra curar desencadeadores de poemas, de sorrisos, de lições de vida que ficarão guardadas para sempre … A vida é tão maravilhosa porque ela nos compensa com ela mesma.

Citações Caio F Abreu 8

"Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar um das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar."

- Sabe qual é o seu problema? Você não deixa as pessoas com gostinho de quero mais.
- Como assim?
- Você distribui doce todo dia.
Isso enjoa!

“Estou aceitando o fato de que algumas pessoas nasceram para sentir o amor, mas não para viver um.”

“Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.”

"Eu cuido, corro atras, peço desculpas me importo mas quando eu desisto, pode crer, meu desapego é pra sempre!"

“Estou aceitando o fato de que algumas pessoas nasceram para sentir o amor, mas não para viver um.”
‘Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.”

O que eu quero de você



Quero acordar do seu lado num domingo de manhã e saber que não temos hora para sair da cama. E, depois, ir tomar café na padaria e ler o jornal com você. Quero ouvir você me contar sobre o trabalho e falar detalhadamente de pessoas que eu não conheço, e nem vou conhecer, como se fossem meus velhos amigos. Quero ver você me olhar entre um gole de café e outro, sem nada para dizer, e apenas sorrir antes de voltar a folhear o caderno de cultura. Quero a sua mão no meu cabelo, dentro do carro, no caminho do seu apartamento. Quero deitar no sofá e ver você cuidar das plantas, escolher a playlist no ipod e dobrar, daquele seu jeito metódico e perfeccionista, as roupas esquecidas em cima da cama. E que, sem mais nem menos, você desista da arrumação, me jogue sobre a bagunça, me beije e me abrace como nunca fez antes com outra pessoa. E que pergunte se eu quero ver um DVD mais tarde. Quero tomar uma taça de vinho no fim do dia e deitar do seu lado na rede, olhando a lua e ouvindo você me contar histórias do passado. Quero escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, mesmo sabendo que eu provavelmente não estarei lá. Quero que você ignore a improbabilidade da nossa jornada e fale da casa que teremos no campo. Quero que você a descreva em detalhes, que fale do jardim que construiremos, e dos cachorros que compraremos. E que faça tudo isso enquanto passa a mão nas minhas costas e me beija o rosto. Quero que você nunca perca de vista a música da sua existência, e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, mas a viagem. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na cama e pelos sonhos que compartilhamos enquanto olhávamos a lua. Que você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento. Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo o que vivemos. Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida. Que você nunca mais deixe de pensar em mim quando for a Londres, escutar Dream' Bout Me ou ler Nick Hornby. E, por fim, que você continue a dançar na sala. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando.
Milly Lacombe
 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Trechos Diversos 19

“Pode pensar o que quiser, ainda acho a reciprocidade uma das coisas mais gostosas - e divertidas - desse mundo.”
"Uma mensagem de bom dia não significa apenas “bom dia” lá no fundo quer dizer “eu penso em você ao acordar”
"Que suas lembranças não sejam o que faltou dizer...."

“O que me atrai. Já me perguntaram isso algumas vezes, eu nunca soube responder. Talvez seja porque o que me atrai realmente não são coisas superficiais, decifráveis… Quando olho nos olhos de alguém, não procuro saber a cor que eles têm, mas a intensidade com que eles me olham e o que eles querem me dizer naquele momento, o quanto eles se conectam ao sorriso, e a veracidade daquilo. Ah, o sorriso… Esse encanta, e desencanta o que é ruim, ainda mais quando é sincero, daqueles que falam por si só, sem precisar pôr legendas. São coisas que talvez você não veja, por isso não entenderia se eu te dissesse o que me atrai.”

"Às vezes uma pessoa ou outra diz a ela que não se pode viver assim, fechando os olhos pras coisas à sua volta. Mas a moça, agora tão esperançosa, não só fecha os olhos como também, tapa os ouvidos.
Tantas pessoas passaram por ela, tanta coisa foi dita, tantas promessas que jamais foram cumpridas e ela fica pensando sozinha que, se ela já perdeu tanto tempo com sentimentos de papel, vale a pena - e muito - esperar por alguém que há tanto tempo faz parte da parte mais íntima da sua vida: o seu sonho de ser feliz."
Rani Ghazzaoui
"Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre! porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que a decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua..."


A necessidade do pra sempre


“E eles foram felizes para sempre”. É assim que as histórias bonitas terminam (ou começam?). Não basta estar junto, não adianta viver o hoje, um dia de cada vez não é o suficiente. A gente quer que dure para sempre. Tem que durar, senão não tem graça. Tem que durar, senão a gente fracassou. Tem que durar, senão não valeu a pena.

Sou mulher, acredito em final feliz. Desculpa, eu acredito. Mas quer saber? Não quero viver no sonho, quero um amor real, não um amor de cinema. Porque no cinema tudo é retocado. É a vida real que mostra você e ele acordando com o cabelo bagunçado, bafo matinal, baba no travesseiro, rímel borrado, humor revirado, contas empilhadas, lençol amassado, roupas espalhadas num canto qualquer.

Amar é aceitar a parte fora do lugar do outro. O lado obscuro, sujo, quase cruel. Porque ninguém é santo, puro e limpo o tempo inteiro. Nunca quis que as coisas fossem perfeitas, pois o que é perfeito não tem cheiro de real.

A gente vive buscando garantias. Queremos que dê certo, queremos fazer dar certo, lutamos para colocar tudo nos trilhos, nos eixos. Mas a vida segue seu ritmo. Os sentimentos têm seus próprios passos de dança. E de vez em quando somos obrigadas a ensaiar um novo passo.

Nem sempre dura. Nem sempre é eterno. Nem sempre é como um sonho bom. E precisamos lidar com isso. Nem que seja na marra. Nem que tenha que engolir o choro e de vez em quando forçar um ou outro sorriso. Nem que a gente tenha que fingir que está tudo bem.

Eu gostava muito de você. Era tão bonito, era tão intenso. Acreditava no pra sempre. Imaginei uma casa, uma família, uma coisa só nossa. Um esconderijo, um refúgio, um paraíso. Cada vez que eu pensava em você me dava um calorzinho no peito. Cada vez que abraçava você o mundo parava de rodar por um segundo. E eu achava que aquilo era amor, achava que aquilo era o certo, achava que a gente era certo um na vida do outro. Mas não foi. Não fui. Não fomos. Não somos.

Você foi para um lado. Eu para o outro. Não chegamos nem perto do sempre. Mas teve graça e valeu muito a pena. Valeu, sim. Não fracassamos, claro que não. Deu certo até onde tinha que dar. Foi eterno até o dia que deixou de ser. Não ficou nenhuma mágoa, nenhuma vontade, nenhuma saudade.

O que importa é a forma como a gente viveu e vive um sentimento. Não importa que nome ele tenha. Não importa se é um amor, um estar apaixonado, um gostar. O que importa é querer que aconteça. O que importa é querer que seja bom. Não importa se vai durar um dia ou uma vida inteira.

(Todo mundo quer que seja pra sempre, mas se não for o futuro vai dizer. Se não for o amanhã nos manda um recado. Mas pra saber só vivendo e se entregando como se ele, o famoso amanhã, não existisse.)

Trecho de Divã

"Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que?
Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranqüila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responde às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto.
Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados.
A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trechos Diversos 18

"As vezes você tem que parar e pensar, começar a ouvir o seu cérebro se quiser salvar o seu coração."Prefira Borboletas (Mariana Lobo)

"Fui dormir umas vezes tão feliz, que, se soubesse minha força, levitava.
Em outras, tanta foi a tristeza que fiz versos"

Adélia Prado


"Não se esqueça de se esquecer quem te esquece"

"Já chorou o suficiente por esse amor, agora passa pra outro. Sofra por um amor de verdade."
Caio Augusto Leite


"Eu deixei a porta do meu coração aberta pra você."
— Até quando?
— Até outro entrar e fechar.
Clara Rangel

"Talvez você encontre alguém melhor. Com mais maturidade que eu, com menos orgulho, com mais experiência, com menos… Problemas. Alguém que não seja um problema em si. Alguém que vai facilitar tudo pra você, ao invés de dificultar mais ainda, tá me entendendo? Alguém que vai te proteger e afastar de tudo que te assusta, alguém que vai compreender teus medos bobos e que vai te dar colo naqueles teus momentos sensíveis e acessos de choro. Que vai saber as coisas certas pra dizer e a hora certa de dizer também. Que vai respeitar teu tempo e espaço. Que não vai ter orgulho quando se trata de você. Que andaria até a puta que pariu a pé só pra ver teu rosto. Que escalaria o Monte Everest se isso fosse o necessário pra arrancar um sorriso de ti. Que iria até o fim do mundo pra conceder teus desejos e vontades.
Mas, namoral? Achar alguém que te ame mais do que eu… Isso aí já vai ser difícil. Enfim, boa sorte aí."Vinícius Kretek, VK

Só numa multidão de amores



Eles não estavam trocando juras de amor, não andavam de mãos dadas, nem se chamavam por nomes infantis. Não tinha pieguice romântica ali. Mas foi a cena mais doce que eu vi: dois olhares se encontrando. Não só se encontrando: se confortando, se sabendo, se completando. Eu notei que eles eram algo além de amigos, que se desejavam e se protegiam, e foi só pela cumplicidade dos olhos, que deixavam de ser dois e se enlaçavam quatro.

Eu quis então ter um olhar pra mim. Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe
. Foi um pouco de inveja, talvez. Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas. Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho. E eu quis. Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados. Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater. Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite. Uma espera no fim do dia, sabe? Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz. Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.

Todo o amor que eu sufoquei por excesso de razão agora grita, escapa, transborda. Estou só numa multidão de amores, assim como Dylan Thomas, assim como Maysa, assim como milhões de pessoas; assim como a multidão de amores está só, em si. Demonstro minha fragilidade, meu desamparo. Eu não procuro alguém pra pentencer e ter posse, só quero uma fonte segura de amor que não dependa das obrigações, das falas decoradas, dos scripts prontos. Eu sei que eu abri mão de várias oportunidades. Sei que fiz pouco caso do amor que me entregaram de maneira pura e gratuita, só porque eu achava que podia encontrar coisa melhor. Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida.

Vou embora querendo alguém que me diga pra ficar. Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.

Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha. Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago. Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém. E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro. Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.